Publicamos abaixo mais uma das crônicas produzidas pelos alunos de 8º e 9º anos que participaram do Concurso Literário Flink Sampa 2014, sobre a vida e a obra da grande escritora Carolina Maria de Jesus.
Carolina Maria de Jesus em noite de autógrafos no lançamento de seu livro |
São só
lembranças...
Dizer adeus nunca
foi muito meu forte.
Esta casa tem
grande valor para mim, pois aqui vivi momentos imensamente felizes, e também
tristezas marcantes. Agora, tenho de deixá-la.
Aqui cresceram
Laura, Diana e o pequeno Cristiano, - “Ah meu Cristiano, quanta falta você faz!”.
Me encontro agora empacotando pedaços de um
passado que levarei comigo. Desde moça eu tenho o costume de guardar
recordações. Vasculhando caixas, deparei-me com as fotos de minha
família.Tempos difíceis.
Morávamos os sete numa
casinha no meio da roça. Meus pais se conheceram na Bahia, onde casaram e
viveram boa parte de sua vida. Passávamos inúmeras dificuldades e tivemos de
aprender a ser unidos. Papai ganhava pouco, o aluguel vivia atrasado. Mamãe
lavava roupa para fora e quando não tinha clientes vendia doces na cidade.
Lembro-me como se fosse ontem: eu e os pirralhos levando a maior surra por
tentar pegá-los às escondidas. Quanta vontade, quanta fome passamos ali.
Viemos para São
Paulo quando eu tinha quinze anos, em busca de emprego. Ajudava muito em casa.
De todos nós, a caçula Luiza foi a única a frequentar escola no período certo.
Os outros entraram atrasados e por isso eram alvos de chacota dos “canetinha
Silva Penha”, os fresquinhos que possuíam bons livros e as tais canetinhas
caras, que eram o sonho de várias crianças na época.
Zezinho era o segundo mais novo. Eu já tinha
doze anos quando ele nasceu. Era de todos o mais arteiro e já havia levado
incontáveis surras antes mesmo dos sete anos. Eu e Zezinho somos os únicos vivos.
Depois de um tempo
que deixamos a Bahia, mamãe passou a trabalhar dobrado, pois meu pai caíra
doente de tanto trabalhar. Meu pai foi outro forte, que viveu até os noventa e
dois anos, e chorou a morte daquela que tanto o amou. Mamãe faleceu aos oitenta
e sete. Meus irmãos já eram crescidos e passaram a sustentar a casa com seus
trabalhos.
Luiza foi a que
conheceu o trabalho mais tarde. Estudou até o terceiro ano e logo arrumou um
emprego de vendedora.
Todos nós arranjamos
sequelas daquela época, Luiza em sua saúde, Marlene que já é falecida, urinava
todas as noites em sua cama e dizia ter medo de algo que nem ela mesma sabia
descrever. Cláudio, que também já faleceu, vivia cheio de manchas de surras por
não saber o limite de papai. Lembro-me dele chorando com fome e papai
mandando-o ir dormir para que esta se fosse.
Eu, por ser a mais
velha, presenciei muitas brigas de meus pais e consolei diversas vezes minha
mãe por sentir-se envergonhada de não poder comprar presentes para os
pequeninos no natal e em seus aniversários.
Foram tempos
difíceis aqueles e mentiria ao dizer que sinto saudades, mas queria poder rever
cada um de meus irmãos e beijar meus pais.
Já tive que me
despedir tantas vezes...
Lá vou eu!
Encontrar-me com novas tristezas e novas felicidades. Sensações e sentimentos
que se tornarão apenas lembranças.
(Rafaela Gomes Mota - 9º ano B)
Para saber mais sobre Carolina Maria de Jesus:
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