sexta-feira, 28 de novembro de 2014

ALUNA É FINALISTA DE CONCURSO LITERÁRIO SOBRE CAROLINA MARIA DE JESUS



 
“...Não digam que fui rebotalho, que vivi à margem da vida.
Digam que eu procurava trabalho, mas fui sempre preterida...”
 
A escritora Carolina Maria de Jesus foi a grande homenageada da Flink Sampa - Festa do conhecimento, literatura e cultura negra, ocorrido nos dias 22 e 23 de novembro de 2014, no Memorial da América Latina. Entre as várias ações que fizeram parte do evento houve o Concurso Literário, que premiou crônicas produzidas por alunos do ensino fundamental e médio e que tiveram como tema a obra "Quarto de Despejo: diário de uma favelada".
 
A Flink Sampa preparou uma página especial com a cronologia e a biografia da escritora que rompeu barreiras sendo a primeira mulher negra e favelada a publicar um livro que alcançou grande sucesso no Brasil e no exterior (http://www.flinksampa.com.br/index.php/about/homenageada).
 
Ester exibe seus prêmios
 
A EMEF Achilles participou do Concurso Literário com quatro textos. Entre eles, "As lutas de Rita", escrito pela aluna Ester Messias da Silva, do 8º ano C, que ficou entre os 10 finalistas.
"Gostei muito de participar do concurso. Aprendi sobre a autora e gostei bastante da maneira como ela escreve. Pretendo ler outros livros dela e continuar escrevendo e participando de outros concursos como esse", disse Ester.
Sua crônica está reproduzida abaixo. As demais serão publicadas nas próximas postagens. Parabéns, Ester!


 
 
 
 
 
 
As lutas de Rita

 Só descobri que era negra quando me vi num ambiente dos brancos.

Até então desconhecia o mundo dos mais favorecidos e suas diferenças, pois fui criada numa favela chamada “Puxadinho”, classificada pelos entendidos como a mais violenta da cidade São Paulo.

Puxadinho localizava–se no bairro do Jardim Ângela e era conhecida por sua grande população (boa parte negra ou afrodescendente) que só aumentava junto com a pobreza estrondosa e o impacto na violência, sendo esquecida pelo governo em seus planos ressocialização.

E nesse bairro, eu nasci, filha de uma mãe solteira, vinda da Bahia, com mais 6 irmãos. Meu pai ou “estranho”, pois a única coisa que sei sobre ele é que era um dos principais traficantes do Puxadinho,  morreu em uma troca de tiros com a Polícia, deixando seu cargo influente no ”PCC“ e 7 filhos para trás.

Eu vivia desconfortavelmente num barraco de madeira, no meio de um beco no alto de um rio, apertado, com cheiro de esgoto. Crescendo, vi minha mãe trabalhar em vários empregos para criar  tantos filhos e assim fui me tornando meio mãe também.

Mas, apesar de tanto sufoco, mesmo que de forma inconsciente, minha mãe não aceitava seu estado - ser negra, pobre, analfabeta e ser tratada como miserável -, pois sua maior preocupação era que os filhos fossem tudo que ela nunca foi na vida.

Surgiu daí sua coragem para lutar e insistir em nos guiar pelos estudos, pois ela tinha um sonho. Foi por essa insistência que conseguimos frequentar uma escola com mais recursos, perto de onde ela trabalhava.

A maior satisfação da minha mãe era quando nos empenhávamos na escola, tirando notas boas. Eu, como irmã mais velha, tinha o dever de zelar pelo bem dos mais novos, o que não era fácil, pois eu e meus irmãos sempre éramos alvo de brincadeirinhas.

- Olha, lá vem turminha dos mulatos, os mortos de fome.

Fora quando não éramos agredidos. Parecia que éramos  saco de pancadas, alvo de piadas maldosas só por não sermos “brancos". Enquanto os professores nos elogiavam, éramos criticados pelos colegas. Para cada nota boa, mais hostilizações, porém sempre dei apoio e conselhos a meus irmãos. Só ressaltávamos as coisas boas (que na verdade não eram muitas) para nossa mãe.

Dentro de mim sentia que havia uma missão, não só de ajudar minha humilde família, mas de fazer a diferença para as pessoas ao meu redor.

Depois de frequentarmos passeatas e projetos, resolvemos levantar nosso próprio projeto, que cada vez mais crescia com o intuito não só de uma raça ou etnia, mas de lutar pelos direitos dos negros e dos mais pobres no ingresso a uma universidade. Com nosso projeto, ajudamos  muitos jovens de baixa renda a entrar em instituições públicas e privadas através de bolsas.

Mesmo com este nosso projeto nossa vida não ficou como um “mar de rosas”, mas foram muitas as conquistas ao longo de 10 anos, não só nossa vida social, mas na de muitos moradores do Puxadinho.
 
(Ester Messias da Silva - 8º ano C)