terça-feira, 6 de agosto de 2013

CONTO DE MISTÉRIO - REDENÇÃO



Redenção*

 

(- Benjamin)

        

         Quando cheguei à mansão Crowley, uma chuva forte caía. Enquanto o motorista carregava minha bagagem, permaneci dentro do carro, esperando as lágrimas cessarem. Eu não conseguia aceitar a morte de minha tia, não conseguia me acostumar a tudo aquilo. Eu me tornara herdeiro. A mansão, o bosque, os jardins, tudo pertencia a mim, mas eu não estava feliz. Muito pelo contrário. O medo era intenso, quase palpável!

         Desci do carro enfim, parando para observar a imponente casa. Havia várias janelas, todas de madeira escura. Apenas uma lâmpada estava acesa, iluminando uma grande porta na qual uma senhora robusta me esperava.

         - Eis o herdeiro! - disse ela quando me aproximei, abrindo um sorriso simpático.

         Levantei um dos cantos da boca, apenas para não parecer grosseiro. Eu não me sentia bem naquele lugar que trazia tantas lembranças de minha tia Lúcia. Seria um insensível tomando o lugar dela?

         A velha mulher se chamava Bárbara e era prima distante da falecida. Ouvi sua tagarelice durante o jantar inteiro e tentei prestar atenção em suas histórias, mas meu estado de espírito não era o melhor e minha mente vagava livremente.

         Quando perguntei onde poderia dormir, Bárbara me instalou num quarto suntuoso, porém antigo. Uma grande cama com lençol branco estava no canto; um guarda-roupa ocupava uma parede inteira e, na outra parede, havia um espelho comprido e alguns quadros.

         Como estava cansado, deitei-me e logo dormi. Mergulhei no mundo dos sonhos até ouvir uma voz suave no meio da madrugada:

         - Benjamin... Ó Benjamin, acorde! – a voz murmurava em meus ouvidos.

         Acordei assustado, sem encontrar ninguém. O quarto estava vazio. Sentei-me e apurei meus ouvidos, tentando ouvir algum outro ruído. Alguns minutos de silêncio se seguiram...

         - Benjamin... – ouvi o sussurro outra vez.

         Levantei-me de imediato, ficando no centro do quarto. Não havia ninguém na janela nem na porta. Corri os olhos pelo quarto, apavorado, e me detive diante do espelho simples, com moldura de madeira.

         Em vez do meu reflexo, uma bela mulher me encarava. Não devia passar dos vinte anos, conservava o ar juvenil. Tinha a pele alva, cabelos escuros e grandes olhos cor de avelã, marejados de lágrimas. Vestia uma camisola branca e seus pés estavam descalços.

         Não entendi o motivo de sua tristeza, mas senti a necessidade de consolá-la. Só de vê-la chorando, meu coração se partiu. Aproximei-me do espelho e encostei minha mão no vidro frio. Um desespero irracional se instalou em mim quando constatei que não podia tocá-la. Eu estava reclamando quando a mão dela atravessou o vidro e segurou a minha...

         - NÃO!!! – o grito veio da porta.

         Bárbara atravessou o quarto, enquanto a mão da moça se fechava em torno de meu pulso com uma força incomum. Tentei em vão me soltar, observando o belo rosto à minha frente se transformar numa careta de fúria.

         Quando finalmente consegui me soltar com a ajuda de Bárbara, o espírito deu um grito ensandecido e desapareceu. Enquanto nos recuperávamos, Bárbara me contou a história:

 

         “Ela era a jovem esposa de Edward Crowley, seu tataravô. Chamava-se Lorena e era o sol desta casa. Seu sorriso era capaz de iluminar um recinto inteiro, de deixar qualquer um feliz. O marido era um monstro, um psicopata assassino. Ele a matou sem dó nem piedade e, por isso, o espírito dela o atormentou até a morte. Ela aparecia no espelho sem dizer nada e os gritos dele podiam ser ouvidos no bosque. Porém, após a morte dele, Lorena continua presa no espelho. Mesmo tendo vingado a própria morte, ela não consegue se libertar. Alguém tem que substituí-la e, por isso, ela atrai qualquer infeliz que ousa dormir neste quarto. Um dia, alguém se renderá e só então ela estará livre...”

 

 

                            Giovana C. B. Oliveira – 8º ano.


* 2°  colocado no Concurso de Contos de Mistério e Horror 2013 da EMEF Des. Achilles de Oliveira Ribeiro

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