Redenção*
(-
Benjamin)
Quando cheguei à mansão Crowley, uma
chuva forte caía. Enquanto o motorista carregava minha bagagem, permaneci
dentro do carro, esperando as lágrimas cessarem. Eu não conseguia aceitar a
morte de minha tia, não conseguia me acostumar a tudo aquilo. Eu me tornara
herdeiro. A mansão, o bosque, os jardins, tudo pertencia a mim, mas eu não
estava feliz. Muito pelo contrário. O medo era intenso, quase palpável!
Desci
do carro enfim, parando para observar a imponente casa. Havia várias janelas,
todas de madeira escura. Apenas uma lâmpada estava acesa, iluminando uma grande
porta na qual uma senhora robusta me esperava.
-
Eis o herdeiro! - disse ela quando me aproximei, abrindo um sorriso simpático.
Levantei
um dos cantos da boca, apenas para não parecer grosseiro. Eu não me sentia bem
naquele lugar que trazia tantas lembranças de minha tia Lúcia. Seria um
insensível tomando o lugar dela?
A
velha mulher se chamava Bárbara e era prima distante da falecida. Ouvi sua
tagarelice durante o jantar inteiro e tentei prestar atenção em suas histórias,
mas meu estado de espírito não era o melhor e minha mente vagava livremente.
Quando
perguntei onde poderia dormir, Bárbara me instalou num quarto suntuoso, porém
antigo. Uma grande cama com lençol branco estava no canto; um guarda-roupa
ocupava uma parede inteira e, na outra parede, havia um espelho comprido e
alguns quadros.
Como
estava cansado, deitei-me e logo dormi. Mergulhei no mundo dos sonhos até ouvir
uma voz suave no meio da madrugada:
-
Benjamin... Ó Benjamin, acorde! – a voz murmurava em meus ouvidos.
Acordei
assustado, sem encontrar ninguém. O quarto estava vazio. Sentei-me e apurei
meus ouvidos, tentando ouvir algum outro ruído. Alguns minutos de silêncio se
seguiram...
-
Benjamin... – ouvi o sussurro outra vez.
Levantei-me
de imediato, ficando no centro do quarto. Não havia ninguém na janela nem na
porta. Corri os olhos pelo quarto, apavorado, e me detive diante do espelho
simples, com moldura de madeira.
Em
vez do meu reflexo, uma bela mulher me encarava. Não devia passar dos vinte
anos, conservava o ar juvenil. Tinha a pele alva, cabelos escuros e grandes
olhos cor de avelã, marejados de lágrimas. Vestia uma camisola branca e seus
pés estavam descalços.
Não
entendi o motivo de sua tristeza, mas senti a necessidade de consolá-la. Só de
vê-la chorando, meu coração se partiu. Aproximei-me do espelho e encostei minha
mão no vidro frio. Um desespero irracional se instalou em mim quando constatei
que não podia tocá-la. Eu estava reclamando quando a mão dela atravessou o
vidro e segurou a minha...
-
NÃO!!! – o grito veio da porta.
Bárbara
atravessou o quarto, enquanto a mão da moça se fechava em torno de meu pulso
com uma força incomum. Tentei em vão me soltar, observando o belo rosto à minha
frente se transformar numa careta de fúria.
Quando
finalmente consegui me soltar com a ajuda de Bárbara, o espírito deu um grito
ensandecido e desapareceu. Enquanto nos recuperávamos, Bárbara me contou a
história:
“Ela
era a jovem esposa de Edward Crowley, seu tataravô. Chamava-se Lorena e era o
sol desta casa. Seu sorriso era capaz de iluminar um recinto inteiro, de deixar
qualquer um feliz. O marido era um monstro, um psicopata assassino. Ele a matou
sem dó nem piedade e, por isso, o espírito dela o atormentou até a morte. Ela
aparecia no espelho sem dizer nada e os gritos dele podiam ser ouvidos no
bosque. Porém, após a morte dele, Lorena continua presa no espelho. Mesmo tendo
vingado a própria morte, ela não consegue se libertar. Alguém tem que
substituí-la e, por isso, ela atrai qualquer infeliz que ousa dormir neste
quarto. Um dia, alguém se renderá e só então ela estará livre...”
Giovana C. B. Oliveira –
8º ano.
* 2° colocado no Concurso de Contos de Mistério e Horror 2013 da EMEF Des. Achilles de Oliveira Ribeiro
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