O espelho assassino*
Era mais um dia normal, acordei e
penteei meus longos cabelos negros. Depois de me vestir, fui ao banheiro
terminar de me arrumar para mais um dia de estudos. Peguei minha carteira de
estudante – “Elizabeth Curtis, 22 anos” – e saí para pegar o metrô, já que
morava longe e era a única maneira de chegar à faculdade.
Fechei a porta
do meu apartamento: um lugar simples de quatro cômodos onde havia o meu quarto
– o maior cômodo do lugar -, uma cozinha, um banheiro, uma sala de estar e
também uma lavanderia. Passava a maior parte do tempo estudando fora, ou em casa. Então era tudo
meio bagunçado; como morava sozinha, não procurava organizar muito as coisas.
Caminhando
como faço todos os dias até a estação, passei pela cafeteria para comer alguma
coisa já que tinha me atrasado e não tivera tempo de comer nada. Depois de
comer, eu continuei andando, mas algo me chamou a atenção: um novo
estabelecimento fora aberto próximo ao parque. Fui até lá para ver; olhei para
o relógio e vi que ainda tinha algum tempo para dar uma espiada antes de pegar
o metrô.
Entrei no
local. Era um antiquário com muitas relíquias, artefatos e coisas antigas. Como
eu adorava colecionar antiguidades, dei uma boa olhada nos itens da loja. Tinha
de tudo lá, desde relógios de parede até uma armadura medieval bem antiga e
feita de metal.
Fui até o
balcão ver se alguém me atendia. Havia uma senhora ali, aparentava uns 70 anos,
tinha um rosto triste e enrugado, olhos negros e longos cabelos brancos.
- Posso
ajudar? O que será que uma bela jovem veio fazer num lugar feito este? – disse
a velha, enquanto tirava o pó dos objetos no balcão.
- Hum... Estou
olhando as mercadorias... Itens muito bons, mas creio que nenhum deles ficaria
adequado onde eu moro. Ah! Quanto a esse espelho coberto de panos... Gostei
muito dele! – o espelho era em formato oval, tinha adornos em ouro e seus
detalhes eram fascinantes.
- Não toque! É
amaldiçoado! – disse a senhora, pegando o espelho, suas mãos pareciam cansadas
e, naquele momento, passavam a sensação de medo, assim como sua face.
Mas por que eu
não poderia levar a única coisa que me agradara e que podia ser colocada onde
eu morava? Isso não estava certo! A velha só podia estar ficando gagá! Então
lhe disse que voltaria mais tarde para pegar o espelho, pois já estava
atrasada. Fui até a estação, entrei no metrô que já estava para partir.
Mal pude me
concentrar em meus estudos, pois não parava de pensar no tal espelho. Como,
raios, uma coisa de tanta beleza não poderia ser vendida? Ainda mais, ser amaldiçoada?
Não acreditava em tais coisas, era muito descrente naquilo e também era muito
paciente, podia esperar mais um pouco e depois convencer aquela velha a me
vender o espelho.
Voltei à loja
depois, quando a senhora, antes de me vender o espelho, contou-me a seguinte
história:
“Trata-se do
espelho de uma bruxa que foi queimada em praça pública durante o século XVI.
Tal pessoa era acusada de ser herege e de realizar rituais satânicos. Antes de
morrer, a bruxa jogou uma praga a quem possuísse o tal espelho. Assim, ele vem
passando de geração em geração, sem que mais ninguém, fora de sua família o
possua”.
Não acreditei
em nada, já que, naquela época, bastava você ser estranho ou agir de modo
diferente para ser considerada bruxa ou coisa do tipo e ser queimada em frente
às pessoas em praça pública! Tinha certeza de que aquilo era uma brincadeira
para que ninguém com pouco dinheiro tentasse comprá-lo, sendo enganado pela
lenda. Pedi à velha que me desse o preço. Então, depois de muita conversa,
consegui comprar o espelho; custou caro, mas comprei.
Cheguei em
casa, tirei o espelho do embrulho e o coloquei acima do criado-mudo que ficava
ao lado de minha cama. Ficou muito bem ali e também me seria útil, pois não
teria que me trocar e me pentear no banheiro. Já era tarde, então fui dormir.
Ao levantar
pela manhã, notei que minha cama estava toda bagunçada, eu estava em trapos e
me lembrei de um sonho bizarro que tivera: eu estava na rua, cheia de sangue em
minhas mãos, e as pessoas ao redor estavam mortas, todas esquartejadas e
decapitadas aos meus pés. Havia uma enorme poça de sangue e os olhos dos
cadáveres miravam penetrantemente meu rosto. Realmente, foi horrível! Queria me
esquecer daquilo. Peguei o jornal para ler enquanto tomava café. Havia a
seguinte matéria: “Encontradas quatro pessoas mortas em suas casas por
esquartejamento. Polícia continua a investigar o caso, mas sem nenhum
progresso.” Parecia que os mortos estavam brincando comigo: no sonho e, depois,
naquela notícia que era muito tensa... Então segui para mais um dia de aula.
O dia foi
muito produtivo para mim. Mesmo com o imenso cansaço físico, consegui me
concentrar ao máximo nos estudos. Na volta, como de costume, fui tomar café e
olhar o parque. Chegando em casa, fui dormir. Ao acordar, novamente havia uma
notícia no jornal relatando que acharam mais três pessoas esquartejadas
próximas ao parque, na madrugada. Não dava para acreditar que meu local
preferido estava sendo atacado...
Os dias
passaram rápidos, assim como minhas noites... Todos os dias assassinatos
ocorriam, até que aconteceram no meu prédio.
Fiquei chocada
com aquilo: como, do nada, alguém podia ter matado tanta gente? Foi aí que eu
evitei sair desnecessariamente de casa por uns tempos, pois não queria correr o
risco.
Mais tarde,
quando voltei da faculdade, fui dormir, mas algo estranho chamou minha atenção
no sono: como era uma noite fria, senti algo muito gelado em minhas mãos.
Quando acordei, vi algo que nunca queria ter visto – uma adaga de prata suja de
sangue! Estava claro para mim que, de alguma forma, eu havia cometido os crimes
durante o sono e, por isso, estava dormindo tão mal! Seria a maldição do
espelho? Não podia ser, estava perdendo a sanidade mental, não havia como eu
ter matado tantas pessoas à noite, e sozinha!
Isso era loucura! Fiquei com o
psicológico abalado demais para pensar em outra coisa. Até que beirei a
insanidade... Foi aí que fiz algo de que me arrependo: parei em frente ao
espelho e, num movimento desesperado e doentio, rasguei minha garganta para
acabar com a série de crimes. Mas, antes de cair, pude ver algo que não era
normal: o espelho mostrou a imagem de um olho macabro, penetrante, feito um
demônio, era de cor verde assim como o meu... Mas não pude fazer nada, já que
estava morta. Agora, minha alma está presa no espelho, fazendo outras pessoas
cometerem assassinatos.
Roberto Nascimento Taroco – 8º ano.
* 3° colocado no Concurso de Contos de Mistério e Horror 2013 da EMEF Des. Achilles de Oliveira Ribeiro
Parabéns Roberto!!!
ResponderExcluirMaravilhoso o seu conto. Muito bem escrito. Francamente, é impossível dizer quem é Roberto, quem é Edgar Allan!!! A imagem está perfeita.
A crueza da história leva o leitor ao delírio, ao prometido "horror"...Abç Maria de Jesus/ DRE São Mateus
Obrigado Maria rs
ResponderExcluirTenho que melhorar muito ainda, mas ainda sim, fiquei feliz pelos elogios :D