A crônica caiu no gosto do leitor brasileiro desde que surgiu na nossa imprensa, há mais de 150 anos. Sérias ou engraças, as crônicas podem ser escritas de vários modos: ter um tom de poesia (prosa poética), de um comentário (crônica esportiva ou política), de um ensaio ou de uma narrativa.
O texto vencedor do Concurso de Crônicas do qual participaram os alunos das turmas de 7ª série (8º ano) em 2013 é uma narrativa engraçada que traz um ponto de vista muito interessante sobre a terceira idade. Divirta-se com a leitura.
A
vovó bandida
Acordei
aquela manhã com o despertar das 7 horas.
-
Bom dia! – disse Mário, meu neto, enquanto lia as notícias naquela tal de
internet.
-
Bom dia, meu filho – respondi.
-
Duvido! – exclamou ele.
-
Duvida do que, rapaz? – perguntei.
-
Aqui diz que estão acusando uma senhora por roubar um aparelho celular... (risadas) Como se algo
assim fosse possível – respondeu ele.
Olhei-o
de maneira indignada: por que uma vovó não poderia realizar este crime como
outra pessoa qualquer?
Passadas
algumas horas, Mário já tinha ido para a faculdade.
Enquanto
regava minhas flores, comentei com Dona Joana, a vizinha:
-
Acredita nisso? Para essa juventude nós, senhoras, somos incapazes...
Espantada
ela me disse:
- E
o que pretende fazer a respeito, Dona Cidinha?
Eu
ainda não possuía nada em mente, mas algo era certo, eu acharia alguma coisa.
Anoitecera rápido naquele dia e assistindo a uma reportagem, surgiu-me a
brilhante ideia: vou assaltar um banco. E assim provarei que sou capaz.
Comentei
a ideia com Dona Joana que a adorou. Juntas
planejamos os detalhes. Tudo certo, o atentado seria no dia seguinte
quando eu fosse receber a aposentadoria.
Ao
amanhecer, acordei entusiasmada. Fui até o quarto, coloquei um cachecol,
apanhei a bolsa e os óculos.
Chegando
lá, um atendente muito desaforado me intima:
- A
senhora é naquela fila ali ao lado; lá é o lugar de idosos, não vê a placa? Ela
indica: ”fila preferencial.”
Nunca
fui tão ofendida na vida, meu Deus do céu! Mas preferi evitar um escândalo já
que intenção mesmo era passar despercebida.
Demorou
cerca de 10 minutos para que eu fosse atendida. Por sorte era uma moça muito
simpática e tudo corria bem.
-
Posso ajudar?- perguntou ela, enquanto contava as notas da caixa registradora.
-
Vim receber a aposentadoria.
-
Ah, claro! Aqui estão dinheiro e o recibo. Queira assinar aqui, por favor.
O
plano seguia bem e, assim como o combinado, Dona Joana surgiu no banco às 10h15.
Agimos como se não nos conhecêssemos. Então
ela se atirou no chão como se estivesse tendo um ataque cardíaco. Todos
se assustaram, até que a atenção se manteve voltada para ela e, por descuido, a
moça largou as notas em cima do balcão e eu as apanhei.
Levantei
da cadeira e caminhei em direção à porta, mas, antes que Joana se levantasse, um guarda me apontou:
-
Parada aí, senhora!
-
Si... sim, senhor... – gaguejei.
- Eu
vi claramente a senhora roubando dinheiro da caixa registradora. A senhora está
presa por roubo!
Desesperada
e com medo de ser presa, tive que apelar:
-
Meu Deus, este país está perdido... Como podem acusar uma vovó???
(1º
lugar: Rafaela Gomes Mota)